Painel reuniu autoridades para discutir os cases da capital portuguesa e o histórico avanço do Distrito Federal
O surgimento de grandes centros urbanos veio numa crescente desordenada com o surgimento de polos industriais, conglomerados comerciais, residências mais próximas ao centro e circuitos culturais. Apesar de todos esses fatores refletirem crescimento para as cidades, a mobilidade urbana nem sempre acompanha esse fluxo de mudanças.
O planejamento das cidades precisa refletir o senso de movimento que ela precisa ter: como a população vai se locomover? A estrutura de transporte (vias e transporte público) promovem bem-estar para quem usa os espaços públicos? O processo de mobilidade urbana está diretamente ligado à urbanização das cidades, que apresentam suas necessidades depois de anos estruturadas.
Brasília, por exemplo, foi projetada com o conceito de utilitarismo, pensando no bem do maior número de pessoas. Ao longo da construção foram definidos os espaços para moradia, trabalho e lazer. A princípio era pra ser funcional e completamente planejada.
Em abril, a Finatec abriu a série de eventos do Hub de Mobilidade Urbana, evento proposto pelo diretor presidente Augusto Brasil. “A missão desta como Fundação de Apoio, é não só apoiar os projetos da Universidade de Brasília, a sua principal apoiada, mas também das outras que nós somos credenciados, o Instituto Federal, por exemplo, o IBICT, e a EBSERH. Dentro desse contexto a fundação então de um tempo pra cá, sob minha gestão na Fundação, nós começamos a formatar hubs de áreas do conhecimento.” comenta o professor.
A professora de Engenharia Civil da Faculdade de Tecnologia da UnB, Fabiana Serra foi a mediadora da conversa. “Esse evento de mobilidade urbana tem como objetivo trazermos discussões que são relevantes para a sociedade e como de fato a universidade pode contribuir na busca de soluções para os problemas identificados. Por exemplo, o transporte público é um assunto que a gente precisa discutir mais e mais, porque nós temos que pensar na qualidade do serviço que é prestado para o usuário, temos que entender melhor o sistema de governança do sistema de transporte, como está a gestão do sistema de transporte, né?” , indaga a professora.
“Nós precisamos avançar e para justamente tentar avançar com esse hub, eu convidei essas pessoas, que são pessoas que eu acho que são estratégicas para falar sobre o assunto e falar sobre práticas de nós evoluirmos nisso – do ponto de vista energético, do ponto de vista das emissões de gases de efeito estufa e também das opções tecnológicas e de investimento, por exemplo do Ministério Investimento Científico, para desenvolver o equipamento de mobilidade e a mobilidade como um todo.”, explica Brasil.
Brasília, a capital dos carros?
Segundo dados da Codeplan, Brasília é uma cidade com 3 milhões de habitantes, com uma frota de ônibus de quase 3 mil veículos, 600 mil usuários por dia no sistema de transporte público por ônibus, mais 170 mil no metrô. 36% da população que se movimenta em Brasília usa o transporte público, então é um percentual relativamente alto.
O ex-secretário de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (SEMOB), Valter Casimiro, esteve presente no evento e explicou a matemática dos veículos da Capital: “Nós temos 3 milhões de habitantes, a cada três, dois têm um veículo. E aí é o que reflete o nosso fluxo. O Augusto falou assim: “fiquei preso hoje no engarrafamento aqui tentando vir para cá”, é por conta disso: 2 milhões de veículos na nossa cidade. Aqui no Distrito Federal temos cidades dormitório, nem todo mundo se desloca aqui para Brasília em grandes distâncias, então a gente tem uma malha cicloviária relativamente grande, a gente só perde aqui no Brasil para São Paulo, temos a segunda maior malha (637 km), mas a gente vai discursar um pouco aqui que ainda precisa evoluir muito.”, comenta Casimiro.
Mesmo tendo os meios de transporte mais comuns já implementados, a capital ainda precisa avançar muito para estar entre as principais cidades inteligentes em mobilidade urbana. A SEMOB focou no desenvolvimento do sistema de bilhetagem. “Existia uma autarquia que fazia isso e identificamos que o melhor, vamos dizer assim, “operador de tarifa” para colocar crédito no cartão é o banco. Banco faz isso muito bem, todo mundo tem aqui uma conta bancária e tem seu crédito no cartão, e quando a gente identificou que a autarquia que fazia esse serviço tinha muitos problemas de interligação de sistema, optamos por chamar o Banco de Brasília, que é um banco que fomenta o desenvolvimento para o Distrito Federal, desde então a gente diminui 99% dos problemas que nós tínhamos com bilhetagem.” comenta Valter Casimiro.
Débito, Crédito ou PIX?
A SEMOB anunciou a novidade prevista na Portaria 118/2023, a previsão é de que os novos equipamentos aceitem os meios de pagamento digital. “Vamos começar a usar o cartão bandeirado em toda a nossa rede. Hoje nós usamos no metrô porque nós temos estações que são fixas, a gente tá mudando todo o sistema para um sistema online, hoje no nosso sistema é offline, e com isso a gente vai conseguir ampliar o uso do meio eletrônico para poder pagar. Para vocês terem ideia, hoje a gente ainda tem 30% do pessoal pagando em dinheiro no sistema, que é um volume muito alto e aumenta o custo para o sistema, porque você tem toda essa movimentação de dinheiro que aumenta muito custo.”, explica Valter Casimiro.
O novo sistema é para facilitar o pagamento por parte dos usuários e reduzir a circulação de dinheiro nos veículos. Além de diversificar as formas de pagamento de tarifas, o novo modelo vai contribuir para aumentar a segurança nos ônibus. Os usuários dos coletivos deverão ficar atentos na hora de escolher a forma de pagamento. O uso do cartão bancário não permite os transbordos sem a cobrança de nova tarifa.
As vantagens do novo sistema se relacionam com a facilidade do usuário na hora de sair de casa. “A bilhetagem online vai permitir que você use o cartão de débito e de crédito no sistema da roleta do ônibus e vai permitir a alimentação do cartão mobilidade com o cartão de débito ou PIX. Isso vai ser alimentado de forma online, então vai possibilitar que você recarregue seu cartão com o celular sem precisar ir para um sistema de bilheteria do BRB, que gera fila ou você paga por boleto, que demora 48 horas para poder fazer a alimentação do cartão. Isso vai fazer de forma automática, então acredito que em aproximadamente seis meses todo o sistema já esteja funcionando desse jeito para poder facilitar a vida do usuário do transporte coletivo”, explica o ex-secretário de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (SEMOB), agora representante do Departamento de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Lisboa: cidade inteligente
Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes distribuídos por 308 concelhos (distritos), um deles é o de Lisboa, que tem duas áreas metropolitanas: uma no Porto e uma em Lisboa. A de Lisboa tem 18 municípios. Na capital portuguesa também existe um grande desafio: o transporte individual. Segundo o professor Tiago Farias, do Instituto Superior técnico, escola de engenharia, “no país, 60% da população usa transporte individual, sendo 46% só na cidade de Lisboa. Ou seja, há um peso muito forte no transporte individual.”
Para viver essa mudança, os gestores de mobilidade urbana precisaram pensar em estratégias para potencializar o transporte público. Foram implementados um novo modelo de governança, reforçar e requalificar a oferta, implementar novas tarifas, expansão da rede metropolitana de Lisboa, urbanismo tático, conectividade.
“Nos últimos 10 anos eu diria muito por causa da revolução das tecnologias digitais e da revolução dos sistemas de proporção elétrica, o mundo viu nascer novos players que têm ocupado de uma forma dinâmica há uma velocidade para que isto são tudo muitos deles são empresas com carisma exponencial, são células que rapidamente colocam num terreno nos seus produtos. Portanto, às vezes é uma dificuldade ainda maior para quem gere a cidade, para quem gere o espaço público, de conseguir regular e definir exatamente o que pretende quando os produtos surgem e equipamentos mais depressa, não é?”, comenta o professor Tiago Farias.
“Eu vi o professor Tiago falando de toda essa questão da modelagem, os três pilares para poder ter uma mobilidade mais eficiente, principalmente na questão do transporte público, e nós elencamos algumas questões que entendemos como prioritário aqui em Brasília para poder melhorar a questão do transporte público. O PDTU aqui do Distrito Federal já prevê algumas características que foram colocadas no transporte de Lisboa. Então nós temos aqui o operador como o Distrito Federal, como o órgão regulador do sistema, que define as linhas, os traçados, a forma que tem que ser atendido os horários e o operador contratado ele simplesmente executa aquilo que o operador do sistema, o órgão gestor, determina. Então a ampliação de oferta, horários, o traçado que a linha vai passar, tudo é o Distrito Federal que determina.”, comenta Valter Casimiro.
O evento aconteceu na Finatec e reuniu atores da sociedade civil e acadêmica. A professora Fabiana Serra explica a importância de debates como esse. “Acho que aqui é o lugar, a Finatec, para a gente trazer as discussões, né? Então, assim, o professor Augusto é um parceiro já de alguns anos, eu fiquei muito feliz com essa iniciativa dele e eu realmente espero e tenho certeza que nós vamos fazer outros eventos como esse. Então é importante que a gente faça essas rodas de debate justamente para que venham ideias, experiências, para que a gente possa se basear e trazer soluções aqui para o Distrito Federal, né? Sempre com foco na sociedade. Como é que nós podemos melhorar o deslocamento da população aqui do DF?”
Assista o painel:
Confira as fotos do evento:
Fonte: https://semob.df.gov.br/passagens-de-onibus-do-df-poderao-ser-pagas-com-cartao-bancario-e-a-recarga-no-pix/
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